CAPÍTULO V
CLARO que não acatei a recomendação (ou deveria interpretá-la como uma ordem?) de não ler o texto de imediato, e só precisei de alguns momentos para me recompor e sentar num banco de jardim que ali havia; e, mais uma vez, dei por mim a ler o texto todo, numa sofreguidão incontrolável. Ora, à medida que ia avançando na leitura, o meu pasmo não cessava de aumentar. Por um lado, era óbvio que Liz queria encenar tudo aquilo comigo (incluindo uma penetração que excedia os meus sonhos mais optimistas); mas, por outro, havia algumas dificuldades e até mesmo incongruências:
Antes de mais, o local da cena. Uma adega subterrânea! Eu disponho de uma, como atrás refiro, mas não é mais do que um pequeno cubículo, onde apenas cabe uma pessoa de cada vez e, mesmo assim, mal. Em seguida, ela previa a aplicação de uma tortura que jamais eu suportaria de boa vontade: como é que eu poderia, por muito excitado que estivesse, passear em cima de cacos de vidro?! Finalmente, mas não menos preocupante, a marcação da sua inicial com um ferro em brasa! Eu já fizera jogos semelhantes, mas com instrumentos pouco aquecidos, e só como simulação e brincadeira erótica.
Pensei, obviamente, que seria preciso falar com ela, começando por lhe expor a primeira dúvida - a do local. Mas como a encontrar? A solução passava por recorrer ao processo habitual do vaso com um lírio, que já começava a tornar-se ridículo mas era eficaz. E depois? Ela iria entender esse sinal como uma aceitação, e não se tratava bem disso – da minha parte, seria uma aceitação, sim, mas com algumas condições. Ela estaria de acordo? Só vendo, só conversando francamente.
Resolvi-me, então, a procurá-la antes de usar o expediente do costume, mas não tive êxito nas buscas, e nem mesmo quando recorri aos préstimos do tal caixeiro-viajante fui mais bem sucedido.
...)(Continua amanhã às 12h TMG)
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