quinta-feira, 3 de março de 2016

O LIVRO SECRETO DE DOMME LIZ - 30

A viagem não foi longa. Mesmo de olhos vendados, eu percebia, com razoável aproximação, para onde nos dirigíamos. O ruído dos pneus no alcatrão, depois nos paralelepípedos e por fim na terra batida dizia-me mais do que qualquer placa toponímica. Estávamos a chegar a uma zona de pinhal e vivendas que eu bem conhecia.
Liz, como se lesse os meus pensamentos, executou então uma série de manobras para me desorientar, mas sem grande êxito. Por fim, parou. Tínhamos chegado ao destino, pois ouvi o ranger de um portão de ferro e, em seguida, o som dos pneus num piso de gravilha. Sorri para mim mesmo, pois agora, certamente, podia dizer onde estávamos, na medida em que todos os outros portões das redondezas eram de madeira. Claro que nada disse, mas deu-me uma certa tranquilidade saber onde me encontrava. E essa descontracção ajudou-me a encarar o que me esperava a seguir…
Andámos ainda mais um pouco, e voltei a ouvir um som inconfundível: agora era um portão basculante de garagem que se abria, por comando remoto. Entrámos. Senti um cheiro a gasolina e a pneus e o ambiente era húmido e pouco ventilado. Ouvi Liz sair do automóvel e fechar o portão. Em seguida, deu a volta ao carro, abriu-me a porta, e ordenou:
— Vamos, salta cá para fora!
Assim fiz, evidentemente. Continuava sem nada ver e tinha a sensação de abafar. Entretanto, tudo indicava que ali perto houvesse o tal alçapão que conduziria à adega da história - e não me enganava. Um ruído de um ferrolho a ser corrido e mais uns quantos rangidos de dobradiças ferrugentas indicavam-me, sem margem para dúvidas, que estávamos bem perto do local da cena.
— Cuidado com os degraus. São treze, irregulares e de pedra escorregadia. Desce à minha frente, mas não caias, pois preciso de ti inteirinho. Encosta-te à parede, se quiseres.
Tacteando, encontrei o caminho facilmente, e desci. Ao chegar ao fundo, parei, e esperei por ela. Ouvi-a a fechar o alçapão, lá em cima, e depois os sapatos de salto alto a descer a escada, fazendo ressoar as pedras dos degraus.

— Senta-te e descansa – disse ela, encaminhando-me para uma cadeira.
  (...)
(Continua amanhã às 12h TMG)
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