NÃO SERÁ preciso descrever a obsessão e a angústia que se apoderaram de mim para, mais uma vez, encontrar aquela mulher que se me escapava como água por entre os dedos!
Ora, sabendo que ela passava frequentemente à minha porta, resolvi colocar ali um novo vaso, com outro lírio – significando com isso, obviamente, a minha ansiedade em a rever. Talvez como resultado desse expediente recebi, dias depois (e novamente na caixa do correio), umas quantas folhas de papel A4 que, como se compreende, li com sofreguidão. Porém, desta vez, não havia grande criatividade da sua parte: o que ela escrevia (e descrevia) era, sem tirar nem pôr, o que havia feito comigo da última vez - e que atrás conto.
Mas a necessidade de estar com ela não esmorecia. Aquela mulher já fazia parte da minha vida – e mais ainda: ela infiltrara-se por tal forma na minha mente que já era como que uma segunda natureza.
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OS DIAS passavam-se, e nada sucedia. Desesperado, recorri então a um expediente: eu sabia a marca e a matrícula do seu carro, e costumava parar, num café ali próximo, um indivíduo que era conhecido por encontrar automóveis roubados. Era capaz de memorizar uma grande quantidade de matrículas e de características dos veículos, andava por todo o lado na sua actividade profissional de caixeiro-viajante, e contava no seu currículo com bastantes êxitos, pelos quais cobrava uma importância simbólica. Naturalmente, procurei-o, e de facto não tardou a encontrar o carro de Liz e, por acréscimo, ela própria que, para meu espanto, teve o requinte de não se mostrar admirada quando, com um bonito ramo de lírios na mão, me apresentei na sua frente!
— Viva! – disse-me ela – Tardou muito em encontrar-me! E então, gostou do meu texto?
Eu estava sem saber bem o que dizer; por isso, fiquei-lhe grato por ser ela a prosseguir:
— Imagino que você esteja mortinho por continuar o que temos andado a fazer. Mas, quanto a isso, tenho outros planos para nós…
Fiquei à espera do que ela poderia dizer, e não me decepcionou:
(...)(Continua amanhã às 12h TMG)
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